Este artigo não é sobre estratégia nem decks, é sobre mim, e o que senti e passei para alcançar este título.
Para mim a corrida de 2014 chegou ao fim, e este ano marcou o que para mim foi o ano mais “difícil” de Mtg desde que jogo (Vi sair Visions… por isso 1997… 17 anos… 17!!), e percebi um pouco do que é ser um jogador de Mtg competitivo, já joguei muito, já fui lá fora, já fiz uns top8’s em PTQ’s mas nada de muito mais que isso. Com dois pirralhos e um trabalho e tempo inteiro, sabia desde o início que ser jogador do ano não ia ser tarefa fácil. Senti-me a maior parte do tempo como aqueles malabaristas que metem um prato a girar em cima de um pau… e depois metem outro, e depois metem outro… e quando metem o terceiro já o primeiro está quase a cair e têm de la voltar e andam a correr ali no meio da pista que nem malucos!
Para ser jogador competitivo deste jogo que adoro, tem de se ler artigos, tem de se ver decks, tem de se analisar metagames, mas acima de tudo é preciso uma disciplina mental que nos permita estar com uma concentração a 100% todos os turnos de todos os jogos de todas as rondas de todos os torneios em que participamos.
Isto dá para manter quanto tempo? Um ano foi o que eu tentei, e foi completamente esgotante! Ganhei este ano um respeito acrescido a todos aqueles jogadores competitivos de topo com um trabalho e família e que ainda assim conseguem ser Platinum, Gold e Silver Pros. É sem dúvida algo que não se faz por dinheiro, é algo pessoal, que se faz por amor a um jogo e que nunca se consegue fazer sem dizermos a nós próprios “EU QUERO ISTO! E VOU LUTAR POR ISSO!”
No entanto há um lado negro… a vontade de ganhar é proporcional à desilusão de perder. Quanto mais vontade de ganhar temos, maior é a desilusão quando perdemos uma ronda, como é que se consegue equilibrar isso? Como eu consegui equilibrar foi a determinada altura, baixar a minha vontade de ganhar. Percebi que quanto mais queria ganhar, mais detestava perder e mais isso influenciava o meu jogo. Perder a Ronda 1 de um torneio era logo meio caminho andado para perder as restantes e esse não era o caminho.
A corrida de jogador do ano tem sempre inerente o fator “grind”. Embora a eficácia seja um fator importante a quantidade de torneios é também um fator determinante. No final a corrida estava já escrita em pedra, o primeiro e segundo lugar estavam a ser disputados apenas por duas pessoas, eu e o André Mendes. Isso corrompeu a corrida, fez com que a grande maioria dos restantes jogadores perdesse o interesse pela corrida. E fez com que tanto eu como o André começássemos a jogar não pelo prazer de jogar, como deveria ser sempre, mas só pela competição em si! Ir aos torneios tornou-se uma obrigação, e não uma diversão. No final decidimos splitar os prémios e acabar a corrida com os standings como estavam em 31 de Outubro. Sagro-me assim Jogador do Ano 2014. Lutei como nunca antes por este jogo e alcancei o meu objetivo, um tapete, um troféu e um título! E agora que aconteceu, sinto como que se o peso do mundo me saiu de cima. Posso voltar a jogar com os decks que me apetece, mesmo que jogue pior com eles, posso voltar a “dar-me ao luxo” não ir a um torneio se simplesmente não me apetecer, posso voltar a fazer road trips com a malta a torneios lá fora! Tudo coisas que tive de abdicar para ganhar este título.
2015 vai ser diferente, não vou correr, vou dar espaço para os outros correrem. O meu conselho é o seguinte, tenham cuidado onde se metem, não deixem o amor por este jogo tornar-se uma obsessão. Estive perto do abismo, felizmente voltei atrás, no entanto fiquei sem dúvidas que isto é o que faz grandes jogadores competitivos deixarem o jogo. Corram, mas de uma forma harmoniosa. Amem o jogo e ele ama-vos de volta, estrangulem o jogo e ele sufoca-vos de volta.
Resumindo, valeu a pena? CLARO QUE VALEU! ADORO O TAPETE! Adoro os braging rights, adoro o troféu, adoro Magic the Gathering. E isto foi tudo uma GRANDE lição para a vida que espero um dia passar aos meus filhos!
Fiquem!
João Costa a.k.a. Legendary